Por
Redação Afya
29.11.2024
•
2 min de leitura
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O segundo conteúdo da série Conexão Clima e Saúde apresenta uma entrevista com a médica espanhola Maria Neira, diretora de Meio ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS). Neira tem sido uma voz atuante no debate sobre como o aquecimento global ameaça o bem-estar das pessoas e desafia a resiliência dos sistemas de saúde mundo afora. Ela conversou com a Afya durante o evento ATACH (Alliance for Transformative Action on Climate and Health) Day, na COP29, em Baku, capital do Azerbaijão.
Afya: As mudanças climáticas estão nos deixando doentes?
Maria Neira: Sim e de várias formas. Primeiro porque impactam pilares essenciais para a nossa qualidade de vida: ar, água e comida. Depois, vão desde a ansiedade provocada pelos efeitos na mudança no clima, impactando nossa saúde mental, até o aumento da concentração de gases como o metano e outros super poluentes, que adoecem nossos pulmões, nosso sistema cardiovascular e afetam nossa saúde por inteiro. Um dos nossos desafios, nas COPs e em outro fóruns, é talvez deixar mais claro, de forma mais visual, para as pessoas o tamanho desse impacto. Por fim, temos os desastres naturais e eventos extremos que são exacerbados pelas mudanças climáticas e têm um grande impacto na saúde, assim como o aquecimento global proporciona o crescimento de doenças como dengue e malária.
Afya: Qual é o papel dos profissionais de saúde na discussão sobre as mudanças climáticas?
Maria Neira: Em primeiro lugar, precisávamos assegurar ser ouvidos nesse debate – e isso já uma realidade. Hoje, existe uma agenda clara relacionada à saúde nas COPs e não precisamos mais lutar por esse espaço. Agora, temos a missão de deixar claro para os países que, quando eles negociam emissões, eles estão negociando nossa saúde também. Nessa perspectiva, apresentamos na COP29 o estudo Health is the Argument, demonstrando que os riscos à saúde são o argumento universal e irrefutável sobre a necessidade de acelerar a ação climática e sermos mais ambiciosos nas decisões sobre mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Afya: Pensando no que precisa ser feito, qual é a perspectiva que a OMS trouxe para a COP29?
Maria Neira: Enfrentar as mudanças climáticas pode ter enormes efeitos positivos para a saúde de pessoas do mundo todo. A transição para fontes de energia limpa, por exemplo, precisa ser acelerada ao máximo, pois uma redução significativa da queima de combustíveis fósseis traria resultados rápidos e relevantes para a saúde. Conseguimos enxergar a saúde claramente nos planos de transição de cada país, mas, quando se fala de implementação, ela quase desaparece. Mas a verdade é que a saúde pode ser um excelente indicador para sabermos se que o está sendo decidido nas negociações é, de fato, o que precisa ser feito.
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